É
fato que as rádios tinham papel fundamental na formação cultural
das cidades brasileiras durante os anos ’60, mas era principalmente
pelas mãos dos marinheiros que desembarcavam no porto que os discos
de vinil chegavam à cidade de Santos, no litoral do estado de São
Paulo.
Numa
época, em que disputavam espaço o mambo, bolero e o samba de
bréque, “conjuntos” de Rock começavam a ganhar espaço nos
bares e aos poucos, iam roubando a cena com seus amplificadores True
Reverbs, Tremendões e os “musts” A100, A200 e A300 da Gianinni.
THE
TEENAGERS
Luminosos
em neon dos night clubs Bergen,
Suomi, Oslo, Zanzibar, Porto Rico, American Bar, Hamburg Bar,
Akropolis e Casablanca,
chamavam a atenção dos “gringos”. As boates das Bocas do Porto
de Santos eram mais que um pólo de diversão sexual para os
marinheiros, ali, em meio à fumaça de cigarros, drogas, bebidas,
prostitutas e “récos“ (como era chamada a Polícia do Exército)
os primeiros grupos de músicos iniciavam sua história no rock
santista.
Podia-se
dizer que os jovens músicos das Bocas, como os Union Beat, por
exemplo, assumiam uma postura mais Rolling Stone, enquanto as bandas
que tocavam próximos da orla da praia, como Black Cats ( Blow Up), e
Teenagers, entre outros, incorporavam uma filosofia mais Beatle.
Aquela onda que chegara com força na cultura dos anos ‘60, viria a
influenciar a juventude até os ‘80 no Brasil.
O
Blow up começara com quatro amigos adolescentes do bairro do Macuco.
O nome foi dado através de concurso no antigo jornal cidade, onde os
leitores escolheram o nome inspirado no filme homônimo de
Michelangelo Antonioni. Gravam
o seu primeiro disco, pela gravadora Caravelle, e participam do filme
Se Meu Dólar Falasse, com Grande Otelo e Dercy Gonçalves. As
primeiras apresentações foram nas domingueiras de clubes locais,
mas poucos anos depois abriam os shows
de Johnny Mathis e Billy Paul, em São Paulo, onde já possuíam um
público fiel e notoriedade entre os anos 1971 e 1976.
Ganharam o prêmio de Melhor Banda do estado de São Paulo, segundo a
imprensa especializada.
BLOW
UP
Com
a gravação do compacto Rainbow, pelo selo Phillips,
a gravadora dos “medalhões” da música brasileira, a banda
conseguia colocar sua música em uma novela chamada Anjo Mau, de
1977. Mas
eles sabiam que depender só do compacto não daria em nada.
Receberam o convite para fazer um contrato fixo com a gravadora e
defender os sucessos internacionais. Foi aí que surgiu a dúvida,
porque a banda queria gravar músicas de sua autoria. Só que com tal
gravadora não dava para ficar na dúvida, o Blow up era uma banda
idealista, e isso foi considerado uma afronta pela gravadora que fez
de tudo para “queimá-los”, cancelando o contrato. Apesar
disso
continuavam a fazer bailes na Baixada Santista, São Paulo e ainda
gravariam mais um compacto, Pamela Poon Tang, em 1977.
Recordando
o Vale das Maçãs, firma-se como um dos principais nomes da música
na virada da década de 70 para os 80, um dos grupos mais fantásticos
do rock progressivo nacional. Teve seus trabalhos divulgados pelas
emissoras de televisão e rádio, com isso conseguiam um bom público
em seus shows. Seria a primeira banda brasileira de Rock Progressivo
a se apresentar na Europa.
RECORDANDO
O VALE DAS MAÇÃS
No
início dos anos
‘80, com o fim da boca,
a troca cultural diminuía, o
Rock santista estava em baixa. Muitos
músicos iam trabalhar em São Paulo ou mudavam de ramo. A relação
com o Porto desaparece e o
público já não tinha acesso fácil aos novos grupos estrangeiros.
É bem sabido que a tecnologia nos anos 80 passava muito longe das
facilidades de hoje em dia, mas havia uma força de vontade e empenho
muito maior por parte de todos.
BAR
DO TORTO
As
dificuldades eram muitas, as condições precárias, mas algo que
ainda era pouco divulgado já corria nas veias. Os bailes com som
mecânico reuniam novamente o público, agora não só em Santos como
também nas cidades vizinhas. O
Clube Ébano (Itararé Praia Clube), em São Vicente, chegava a
promover bailes as terças, sextas, sábados e domingos.
Também
eram frequentados o Santos F.C., Caiçara, Power Beach, Saldanha da
Gama, Cassino, Ferroviária, Colégio do Carmo, Atlântico, Fênix,
Sírio Libanês, Vasco da Gama, Tumiarú e o Barracão (BNH).
Importantes bandas do metal brasileiro surgiriam de alguns desses
bailes, onde,
por horas jovens agitavam air
guitars, ou
mesmo guitarras
de madeira enquanto
conseguissem ficar de pé. A divulgação desses eventos era feita
por cartazes colados de poste em poste pelos organizadores, às vezes
pelos próprios músicos e panfletar nos botecos era fundamental.
RENASCENÇA
Difundido
por jovens frequentadores das lojas Hot Discos, Top Discos (Top
Shirts), Kissom e Metal Rock, os discos e fitas cassete circulavam
nas reuniões de amigos, eram compartilhados por correio, e assim o
metal chegava agora a vários lugares do país e a baixada santista
não ficaria de fora...
TRAVA
Para
os músicos de Heavy Metal, dificuldades ainda deveríam ser
superadas, pois quando se tinha o equipamento para ensaiar não se
tinha o local, ou quando se tinha o local não se tinha o
equipamento. Shows
da Yardrats, Trava, Alta Tensão, Pesadelo (Tropa Suicida), Zona
Franca, Renascença, Ave de Veludo, Misto Quente, Karisma, Patrulha
do Espaço e Made in Brazil, rolavam nos mesmos lugares dos bailes ou
em festivais pelo litoral, mas para as bandas locais gravar um disco
nos anos 80 não era uma missão lá muito fácil, prensar um Lp era
caro e complicado, e a grande maioria não tinha como investir
dinheiro em seu som.
YARDRATS
Ter
o apoio de um selo pra lançar seu trabalho era algo que realmente
daria outro status a algumas das bandas.
Em 1981,
da mais barulhenta das garagens de Santos surgia o Vulcano. Seu
primeiro registro foi em ‘83 com o compacto Om
Pushne Namah,
mostrando um rock and roll cantado em português ainda com clara
influência das bandas da década anterior.
Nos
bailes de som mecânico já se ouviam músicas mais agressivas e as
primeiras mudanças no Vulcano começam a surgir. Em 1984, lançam
a demo-tape Devil
on My Roof,
“Se o público quer o demônio, então damos o demônio!”. A
proposta era simples: ser mais radical possível. A banda ainda não
adentrara o fechado cenário paulistano. Passam a tocar pelo interior
do estado, e em Americana gravam o primeiro disco ao vivo de Metal
Extremo do país, e, possivelmente, do continente Sul-Americano, o
Vulcano LIVE!, pelo selo Lunário Perpétuo.
VULCANO
Em
meados da década, já pelo selo paulistano Rock Brigade Records, o
Vulcano grava seu segundo Lp, Bloody Vengeance, que faz da banda uma
das primeiras representantes do que viria a ser conhecido como Black
Metal.
Além deles ainda veríamos brotar vários outros grandes talentos, como o Santuário, formado em agosto de 1982, na cidade de São Vicente. Participam das gravações da segunda edição da coletânea SP Metal. O Santuário obteve com essa gravação boa repercussão entre os fãs com as faixas Espartaco e Santuário. Realizam shows marcantes em São Paulo, em 1986 no Teatro João Caetano, e no Parque do Carmo, fazendo a estréia do Espaço do Rock.
SANTUÁRIO
Depois
disso, são convidados a tocar na Colômbia, e com nova formação
gravam uma demo-tape já com outra proposta musical. Em seguida,
realizam mais alguns shows e saem de cena.
Em
1985 era formada a banda Angel, uma das mais determinadas e
competentes do cenário. Soavam como as bandas clássicas dos anos
‘70, mas com o passar do tempo e as diversas mudanças de
integrantes a banda adquire identidade com um som mais pesado e
melódico. Suas letras falam sobre as injustiças impostas aos
jovens, a opressão do regime militar, e os mistérios da vida entre
o Bem e o Mal.
ANGEL
Em
87 assinam com o selo Rock Brigade Records para participação na
coletânea Metal Brigade, e em seguida iniciam a We
Shout for Revenge Tour,
realizando então seu primeiro show em São Paulo, no teatro Mambembe
com as bandas Vodu e Viper. São muito bem aceitos pelo público
paulistano, e realizam uma série de shows tanto na capital quanto
pelo interior do estado.
Outra
excelente banda era o Psychic Possessor, que após uma demo-tape, em
’88 lança o seu primeiro disco, Toxin Diffusion pelo selo
Cogumelo, conceituada gravadora de bandas como Sarcófago e
Sepultura.
O
disco trazia uma sonoridade crossover,
misturando elementos do Metal com
o Hardcore Punk
europeu. O álbum viria a ser considerado por muitos como um dos
melhores discos de Metal já produzidos no Brasil e no mundo. Com
bases pesadas e sem solos, foi inovador na época, muito à frente de
seu tempo.
PSYCHIC
POSSESSOR
Após
o lançamento do álbum de estréia, várias brigas mudaram não só
o line up da
banda, mas também o som. O "novo" Psychic Possessor lança
em ’89 seu segundo disco, Nós Somos a América do Sul, sem muitos
traços do passado metálico, mostrando agora influência do Hardcore
Punk brasileiro.
Mas
não apenas o metal e o hardcore ganharam força durante a década de
‘80, o Harry lança seu primeiro EP em 1987, misturando guitarras
pesadíssimas, harmonias vocais e canções muito melodiosas, o som
do Harry às vezes beirava o inclassificável. Pioneiros na
mistura do Rock com a música eletrônica chamam a atenção da
crítica especializada.
HARRY
Alguns
lugares eram bons para não só assistir shows como também para
tocar. A Concha Acústica e o Bar do Torto contribuíam para a
divulgação do trabalho dos músicos de diferentes estilos. O mais
lendário desses lugares, principalmente para o Heavy Metal talvez
tenha sido o Circo Marinho, localizado na Av. Ana Costa, em Santos.
Ali tocavam bandas de outros lugares do país como o Taurus, Vodu,
Viper, Chave do Sol, Centúrias, Salário Mínimo, Metrallion,
Máscara de Ferro, Attômica, Lobotomia, Extermínio, BSBH, e o
lendário show South
American Death Fest,
em que os bangers “pararam” a avenida. Além do pessoal da
região, vários bangers do interior do estado de São Paulo lotaram
o lugar pra ver esse show.
SOUTH AMERICAN DEATH FESTIVAL
O
som pesado ganhara um público fiel e as bandas locais proliferavam.
Pactus Fire, Mordedura, Druidas, Oryon, Warkings, e Ícarus tinham
agora acesso a palco e equipamento sensivelmente melhor tocando em
shows
com bandas mais “rodadas”.
ÍCARUS
Muitas amizades nasciam nos encontros de sábado à tarde nas lojas que ficavam no Centro Comercial do Embaré, e se tornavam ponto de encontro. Era lá que os jovens headbangers saciavam o desejo por música. Quem não podia adquirir um Lp, fosse importado ou nacional, tinha a oportunidade de gravá-lo em cassete e ouvi-lo da mesma forma.
ORYON
Expostos nas paredes discos do Metallica, Anthrax, Exodus, Destruction, Agent Steel, e outras bandas que logo se tornariam ícones do Thrash Metal. Também os primeiros discos das bandas brasileiras chegavam lá.
PLATÉIA
DA CONCHA ACÚSTICA NOS ANOS 80
Na base da parceria a cena ia se fortalecendo. Em algumas ocasiões duas ou mais bandas se juntavam para dividir as despesas do aluguel de um local para ensaiar colocando o que cada uma tinha de equipamento. Era assim o local conhecido como PV, em pleno Gonzaga, bairro nobre da cidade de Santos.
Uma
casa cujo dono alugava os quartos para que as bandas colocassem seus
equipamentos e ensaiassem. Podia-se ouvir pela casa do Jazz, Blues e
Hard Rock de Lei Seca e Gigawatts, ao hardcore de Safari Hamburgers,
os primeiros ensaios do ainda trio Garage Fuzz e as mais barulhentas
bandas daquela época como Explicit Repulsion, por exemplo. A um
quarteirão dali, na casa de um de seus membros, ensaiavam as banda
Mistic Death e mais tarde o No Sense.
NO SENSE
Alguns dos músicos desse underground santista já vinham de bandas anteriores, o que unindo ao “sangue nos olhos dos novatos” trouxe um novo vigor ao Rock da região. É também dessa forma que surge a voraz banda de death metal Chemical Disaster, formada por músicos das bandas Warkings, Ignorance e Alcólica.
CHEMICAL
DISASTER
Depois de algum tempo começam a surgir os estúdios de ensaio que já dispunham de alguma infraestrutura e equipamentos que só eram vistos em shows. Com o passar dos anos vários apareceriam pra facilitar a vida das bandas proporcionando melhores condições para compor e gravar.
MR.
GREEN
Nas
rádios o Hard Rock rolava solto, e músicos da região aproveitavam
o momento. Uma
das lojas de discos mais freqüentadas da região ampliara as suas
atividades para selo, e a Metal Rock Records lança, em
1994, o CD Faces
da banda Mr. Green. A
música Invisible
faz sucesso nas rádios 95 e 98 FM em Santos e nas paulistanas 89 e
97 FM.
LAST
JOKER
Também o Last Joker nasce no início dos anos 90 com um um hard rock dançante na linha de Van Halen e Whitesnake, tendo seu trabalho lançado em 1992 pelo mesmo selo Metal Rock Records. A banda tocava nas casas Lofty, Zoom, no bar Faraós (em cima do cine Iporanga), no Chopp Chopp, e ainda interior e capital do estado.
Outra
banda de destaque era o Yankee, que vinha conquistando o
underground de
São Paulo e da Baixada Santista. O som era influenciado pelas
bandas: Ratt, Bon Jovi, Scorpion, Skid Row e Mötley Crüe.
YANKEE
Em
1992, tocando em várias casas de rock de São Paulo, Santos e
interior, planejavam gravar o primeiro CD, mas perdem o
nome para uma banda cover de
São Paulo e são obrigados a trocar sua “marca”. Fazem um show
com o nome de Decadence, mas logo se tornariam Promise, gravando um
material demo-tape e um EP.
A
cidade de São Vicente também contribuíra com uma casa de show
para o público
roqueiro,
chamada
Flash Chopp. Shows
bem legais neste bar sem palco, com equipamento colocado
principalmente pelas bandas, mas com muita atitude tocavam, entre
outros, Chemical Disaster e No Sense, que logo gravariam seus
primeiros discos por selos já consagrados no Metal e Grindcore
nacional. A casa já com palco construído recebia diversas outras
bandas como Asmodeu, Skullkrusher, Dezakato, IML. O Hardcore, o
Guitar Band, o Eletrônico, diversos estilos tinham espaço.
A
vontade de fazer parte daquilo era muito maior do que qualquer
dificuldade. A região também contava com outros lugares para shows,
Cubatão tinha o SOMECA, que não era um espaço destinado para essa
finalidade, mas que servia muito bem ao propósito de quem organizava
eventos por lá, onde Genocidio, Krisiun, Mitological Cold Towers,
Acid Angel e Violent Vision se apresentaram, e ainda eram organizados
festivais ao ar livre que mostravam uma diversidade cada vez maior de
bandas principalmente no segmento Grindcore. Guarujá também tinha o
Templo do Rock e as bandas da Trash Metal, Burial e Sarcastic.
Algumas casas de show não durariam muito por conta dos baderneiros
ou por falta de interesse dos proprietários em manter as portas
abertas para a música underground. Casas como o Bar do Torto não
mantiveram suas portas abertas por mais tempo ao Metal por conta dos
prejuízos que alguns causavam. Em Santos também o Carinhoso Bar,
por alguns também chamado de Dynamo, o Chopp Chopp e vez ou outra o
Sindicato dos Metalúrgicos e o Teatro de Arena, anexo ao Municipal,
locais onde foram realizados shows de MX, Korzus, Necrodulia,
Explicit Repulsion, Vulcano, Asmodeu, Torture Squad, Traumma, Four
Guys Playing Hell, Coliforme Fecal e Madsen.
PASSARINHOS BAR EM PRAIA
GRANDE
Os
locais podiam durar pouco, mas sempre surgiria mais um, e os clubes
da região também voltavam a ser locais de shows, oportunidade de
ver bandas gringas. Saxon,
Mercyful Fate e King Diamond, Gamma Ray, Napalm Death, Exodus com
Paul Ballof, Nazareth, Deep Purple, entre outras. Um
programa de rádio entrevistava bandas locais além de tocar as
novidades da ocasião. O programa se chamava Hard’n’Heavy e deu
origem a dois festivais que trouxeram Golpe de Estado, Ratos de Porão
e Yohodelic para tocar com bandas locais como Last Joker, Merlin e
Chemical Disaster.
Entre
as bandas não havia competição e sim união. O maior exemplo disso
era o projeto chamado de Circuito Hard Core, uma apresentação
conjunta de quatro bandas da baixada. No Sense, Explicit Repulsion,
IHZ e Safari Hamburgers, que unidas dispunham de todo o equipamento e
transporte para vender os shows pela região e outras cidades. As
dificuldades da época davam um enorme sentido à participação de
todos.
Infelizmente
tudo tem o seu lado bom e ruim. Houve um tempo que, as pessoas iam à
porta do local dos shows e não entravam. Ficavam bebendo do lado de
fora enquanto os shows aconteciam, e com o passar dos anos perderam o
hábito de consumir o trabalho autoral das bandas locais e surgiram
as bandas cover.
Muitos viram ali uma oportunidade de continuar “na estrada”, como
a pioneira banda Blow up, que deixando de lado seu idealismo, voltara
a animar os bailinhos desta vez tocando clássicos da música
internacional. Enquanto alguns músicos partiam para tocar cover
somente por
diversão outros tinham a chance de ganhar algum dinheiro que não
conseguiam com som de sua autoria. Mas ainda assim a década de ’90
fez crescer uma nova geração de bandas que seriam algumas das mais
“malditas” do cenário underground
da baixada
santista.
WRINKLED
WITCH
A
juventude freqüentadora dos bares ficara “órfã” da Adega
Marrocos e Passarinhos Bar (Praia Grande) e passara a ter o Matrix
como ponto de encontro. Era uma época em que se brindava ao excesso,
as bandas cada vez mais blasfemas não mediam esforços para chocar a
sociedade.
O
intercâmbio de músicos entre as bandas era intenso, muitos
“projetos” surgiam dessa “promiscuidade” artística. Um
desses “projetos” foi a Wrinkled Witch, banda de Black Metal, que
após algumas gravações independentes e uns poucos shows, deu
origem à First Pagan Monarch, lançada pelo selo Violent Records na
coletânea Endless Massacre Vol. I. Tal coletânea contava ainda com
as bandas Infector e Vetor (Praia Grande), e uma faixa do disco Tales
From the Black Book do Vulcano, que voltara à ativa com toda
agressividade do começo da carreira.
IN
THE PROFOUND ABYSS
O momento era de muita criatividade, favorecido pela grande quantidade de estúdios de ensaio. In the Profound Abyss, In Hell, Opus Tenebrae, Hugin Munin e Chesed Geburah eram exemplos de como o Metal pesado na baixada santista soava de diferentes formas, com influências mais diversas.
CHESED
GEBURAH
EMPIRE
OF SOULS
Outra
das mais brutais, o Empire of Souls, formado em 1995, lança quatro
demo-tapes até que através de uma parceria com os selos Nocturnal
Age e Imperial Records, lança seu primeiro álbum intitulado Revenge
Circle. Assim como eles outras bandas do litoral se tornariam
importantes nomes do Black Metal paulista.
HUGIN
MUNIN
O
Praia Sport Bar, passou a ser o lugar onde algumas das melhores
bandas cover
tocavam, mas
também músicos do Grindcore, Punk Rock e Hardcore divulgavam seu
trabalho autoral. As bandas Olho Seco, Sociedade Armada, Hutt e a
recém formada Repulsão Explícita (criada por ex- membros do
Psychic Possessor, Chemical Disaster e Explicit Repulsion) tocavam
lá. Além disso, a casa seria berço do “movimento” Emo na
cidade, e suas domingueiras eram repletas de jovens que em grande
parte, nunca haviam subido em um palco para tocar.
O
maior fenômeno da época era a banda Charlie Brown Jr., que nasceu
em Santos e ganhou espaço no cenário nacional com seu som
que mistura uma
infinidade de ritmos, incluindo Reggae, Hip
Hop, Punk
Rock californiano
e letras de forte identidade com os adolescentes. Também o Garage
Fuzz se firmava como uma grande banda alternativa, se tornando uma
das mais conhecidas no país, ainda que sendo underground,
fazendo
turnês por todo o país com as bandas Sick
of it All, Down By Law,
Fugazi e Seaweed. Outras
bandas fizeram parte
do cenário hardcore dos anos
90 em Santos,
como Dirty
Fun, What's up Doc, Altered Mind, Overjoyed e Sonic
Sex Panic.
GARAGE
FUZZ
O
Metal da Baixada Santista vem conseguindo destaque não só pelo país
como também no exterior. Não só veteranos como Vulcano fazem
turnês no exterior. Shadowside, banda de heavy metal formada em 2001
teve como primeiro lançamento, uma demo-EP, seguido
de uma turnê nacional que incluia shows de abertura para as bandas
Nightwish e Primal
Fear.
Escolhidos como banda de apoio para o Helloween na
turnê brasileira de 2006, a Shadowside está com freqüência no
exterior, tendo já dividido o palco com Iron
Maiden, Wasp,
Kittie, Divine
Heresy, Death e Sepultura.
SHADOWSIDE
As
cidades da Baixada Santista oferecem diversos locais para todo o tipo
de público, Rock, MPB, Blues, Jazz e até a música erudita têm
seus representantes, todos os gostos e faixas etárias.
Entretenimento para uns e trabalho para outros. O músico ‘freelance’
acaba tocando em diversos lugares, porém, os cachês dependem do
público que levam e do retorno que dão. Uns dizem que para ganhar
dinheiro, o músico tem de estar nas "panelinhas", e o
mercado da música em Santos sofre pela desvalorização e pela falta
de oportunidade nas casas noturnas.Hoje as bandas da noite santista
disputam espaço com humoristas de
stand up comedy enquanto o
público se acomoda com a praticidade de ouvir as músicas pela web.
Montar
uma banda de rock é agora a coisa mais fácil do mundo, porém,
conseguir transformar a sua música em algo que vá além de um hobby
ainda não é nada simples. Não basta tocar na noite. As bandas
chegam ao ponto de ter reuniões de pauta entre integrantes e
proprietários das casas onde tocam. Preparar uma composição
própria pode envolver uma verdadeira equipe de produção que
inclui cenografia,
performance,
cobertura fotográfica dos shows,
assessoria de imprensa e marketing,
entre outros itens. Outras bandas ainda gastam do próprio bolso para
saber como é a experiência de cair na estrada enfrentando uma tour.
Sejam os roqueiros da orla da praia ou os dos inferninhos da boca do
lixo, eles ainda estão por aí, e as cidades da Baixada Santista com
toda certeza ainda revelarão ótimas bandas, sejam por seu talento e
perseverança, sejam por seus “contatos” e habilidade de circular
livremente por essas “panelinhas”.
por Adair Jr e André Martins
por Adair Jr e André Martins