sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A Origem do Rock e do Heavy Metal na Baixada Santista



É fato que as rádios tinham papel fundamental na formação cultural das cidades brasileiras durante os anos ’60, mas era principalmente pelas mãos dos marinheiros que desembarcavam no porto que os discos de vinil chegavam à cidade de Santos, no litoral do estado de São Paulo.

Numa época, em que disputavam espaço o mambo, bolero e o samba de bréque, “conjuntos” de Rock começavam a ganhar espaço nos bares e aos poucos, iam roubando a cena com seus amplificadores True Reverbs, Tremendões e os “musts” A100, A200 e A300 da Gianinni.

THE TEENAGERS

Luminosos em neon dos night clubs Bergen, Suomi, Oslo, Zanzibar, Porto Rico, American Bar, Hamburg Bar, Akropolis e Casablanca, chamavam a atenção dos “gringos”. As boates das Bocas do Porto de Santos eram mais que um pólo de diversão sexual para os marinheiros, ali, em meio à fumaça de cigarros, drogas, bebidas, prostitutas e “récos“ (como era chamada a Polícia do Exército) os primeiros grupos de músicos iniciavam sua história no rock santista.

Podia-se dizer que os jovens músicos das Bocas, como os Union Beat, por exemplo, assumiam uma postura mais Rolling Stone, enquanto as bandas que tocavam próximos da orla da praia, como Black Cats ( Blow Up), e Teenagers, entre outros, incorporavam uma filosofia mais Beatle. Aquela onda que chegara com força na cultura dos anos ‘60, viria a influenciar a juventude até os ‘80 no Brasil.

O Blow up começara com quatro amigos adolescentes do bairro do Macuco. O nome foi dado através de concurso no antigo jornal cidade, onde os leitores escolheram o nome inspirado no filme homônimo de Michelangelo Antonioni. Gravam o seu primeiro disco, pela gravadora Caravelle, e participam do filme Se Meu Dólar Falasse, com Grande Otelo e Dercy Gonçalves. As primeiras apresentações foram nas domingueiras de clubes locais, mas poucos anos depois abriam os shows de Johnny Mathis e Billy Paul, em São Paulo, onde já possuíam um público fiel e notoriedade entre os anos 1971 e 1976. Ganharam o prêmio de Melhor Banda do estado de São Paulo, segundo a imprensa especializada.


BLOW UP

 

Com a gravação do compacto Rainbow, pelo selo Phillips, a gravadora dos “medalhões” da música brasileira, a banda conseguia colocar sua música em uma novela chamada Anjo Mau, de 1977. Mas eles sabiam que depender só do compacto não daria em nada. Receberam o convite para fazer um contrato fixo com a gravadora e defender os sucessos internacionais. Foi aí que surgiu a dúvida, porque a banda queria gravar músicas de sua autoria. Só que com tal gravadora não dava para ficar na dúvida, o Blow up era uma banda idealista, e isso foi considerado uma afronta pela gravadora que fez de tudo para “queimá-los”, cancelando o contrato. Apesar disso continuavam a fazer bailes na Baixada Santista, São Paulo e ainda gravariam mais um compacto, Pamela Poon Tang, em 1977.



Recordando o Vale das Maçãs, firma-se como um dos principais nomes da música na virada da década de 70 para os 80, um dos grupos mais fantásticos do rock progressivo nacional. Teve seus trabalhos divulgados pelas emissoras de televisão e rádio, com isso conseguiam um bom público em seus shows. Seria a primeira banda brasileira de Rock Progressivo a se apresentar na Europa.

 
RECORDANDO O VALE DAS MAÇÃS


No início dos anos ‘80, com o fim da boca, a troca cultural diminuía, o Rock santista estava em baixa. Muitos músicos iam trabalhar em São Paulo ou mudavam de ramo. A relação com o Porto desaparece e o público já não tinha acesso fácil aos novos grupos estrangeiros. É bem sabido que a tecnologia nos anos 80 passava muito longe das facilidades de hoje em dia, mas havia uma força de vontade e empenho muito maior por parte de todos.

 
BAR DO TORTO


As dificuldades eram muitas, as condições precárias, mas algo que ainda era pouco divulgado já corria nas veias. Os bailes com som mecânico reuniam novamente o público, agora não só em Santos como também nas cidades vizinhas. O Clube Ébano (Itararé Praia Clube), em São Vicente, chegava a promover bailes as terças, sextas, sábados e domingos.

 

Também eram frequentados o Santos F.C., Caiçara, Power Beach, Saldanha da Gama, Cassino, Ferroviária, Colégio do Carmo, Atlântico, Fênix, Sírio Libanês, Vasco da Gama, Tumiarú e o Barracão (BNH). Importantes bandas do metal brasileiro surgiriam de alguns desses bailes, onde, por horas jovens agitavam air guitars, ou mesmo guitarras de madeira enquanto conseguissem ficar de pé. A divulgação desses eventos era feita por cartazes colados de poste em poste pelos organizadores, às vezes pelos próprios músicos e panfletar nos botecos era fundamental.

 
RENASCENÇA


Difundido por jovens frequentadores das lojas Hot Discos, Top Discos (Top Shirts), Kissom e Metal Rock, os discos e fitas cassete circulavam nas reuniões de amigos, eram compartilhados por correio, e assim o metal chegava agora a vários lugares do país e a baixada santista não ficaria de fora...

 

TRAVA


Para os músicos de Heavy Metal, dificuldades ainda deveríam ser superadas, pois quando se tinha o equipamento para ensaiar não se tinha o local, ou quando se tinha o local não se tinha o equipamento. Shows da Yardrats, Trava, Alta Tensão, Pesadelo (Tropa Suicida), Zona Franca, Renascença, Ave de Veludo, Misto Quente, Karisma, Patrulha do Espaço e Made in Brazil, rolavam nos mesmos lugares dos bailes ou em festivais pelo litoral, mas para as bandas locais gravar um disco nos anos 80 não era uma missão lá muito fácil, prensar um Lp era caro e complicado, e a grande maioria não tinha como investir dinheiro em seu som.

 
YARDRATS


Ter o apoio de um selo pra lançar seu trabalho era algo que realmente daria outro status a algumas das bandas.


Em 1981, da mais barulhenta das garagens de Santos surgia o Vulcano. Seu primeiro registro foi em ‘83 com o compacto Om Pushne Namah, mostrando um rock and roll cantado em português ainda com clara influência das bandas da década anterior.


Nos bailes de som mecânico já se ouviam músicas mais agressivas e as primeiras mudanças no Vulcano começam a surgir. Em 1984, lançam a demo-tape Devil on My Roof, “Se o público quer o demônio, então damos o demônio!”. A proposta era simples: ser mais radical possível. A banda ainda não adentrara o fechado cenário paulistano. Passam a tocar pelo interior do estado, e em Americana gravam o primeiro disco ao vivo de Metal Extremo do país, e, possivelmente, do continente Sul-Americano, o Vulcano LIVE!, pelo selo Lunário Perpétuo.

 
 
VULCANO


Em meados da década, já pelo selo paulistano Rock Brigade Records, o Vulcano grava seu segundo Lp, Bloody Vengeance, que faz da banda uma das primeiras representantes do que viria a ser conhecido como Black Metal.


Além deles ainda veríamos brotar vários outros grandes talentos, como o
Santuário, formado em agosto de 1982, na cidade de São Vicente. Participam das gravações da segunda edição da coletânea SP Metal. O Santuário obteve com essa gravação boa repercussão entre os fãs com as faixas Espartaco e Santuário. Realizam shows marcantes em São Paulo, em 1986 no Teatro João Caetano, e no Parque do Carmo, fazendo a estréia do Espaço do Rock.

 
SANTUÁRIO


Depois disso, são convidados a tocar na Colômbia, e com nova formação gravam uma demo-tape já com outra proposta musical. Em seguida, realizam mais alguns shows e saem de cena.


Em 1985 era formada a banda Angel, uma das mais determinadas e competentes do cenário. Soavam como as bandas clássicas dos anos ‘70, mas com o passar do tempo e as diversas mudanças de integrantes a banda adquire identidade com um som mais pesado e melódico. Suas letras falam sobre as injustiças impostas aos jovens, a opressão do regime militar, e os mistérios da vida entre o Bem e o Mal.

 
ANGEL


Em 87 assinam com o selo Rock Brigade Records para participação na coletânea Metal Brigade, e em seguida iniciam a We Shout for Revenge Tour, realizando então seu primeiro show em São Paulo, no teatro Mambembe com as bandas Vodu e Viper. São muito bem aceitos pelo público paulistano, e realizam uma série de shows tanto na capital quanto pelo interior do estado.
Outra excelente banda era o Psychic Possessor, que após uma demo-tape, em ’88 lança o seu primeiro disco, Toxin Diffusion pelo selo Cogumelo, conceituada gravadora de bandas como Sarcófago e Sepultura.

O disco trazia uma sonoridade crossover, misturando elementos do Metal com o Hardcore Punk europeu. O álbum viria a ser considerado por muitos como um dos melhores discos de Metal já produzidos no Brasil e no mundo. Com bases pesadas e sem solos, foi inovador na época, muito à frente de seu tempo.


PSYCHIC POSSESSOR

Após o lançamento do álbum de estréia, várias brigas mudaram não só o line up da banda, mas também o som. O "novo" Psychic Possessor lança em ’89 seu segundo disco, Nós Somos a América do Sul, sem muitos traços do passado metálico, mostrando agora influência do Hardcore Punk brasileiro.


Mas não apenas o metal e o hardcore ganharam força durante a década de ‘80, o Harry lança seu primeiro EP em 1987, misturando guitarras pesadíssimas, harmonias vocais e canções muito melodiosas, o som do Harry às vezes beirava o inclassificável. Pioneiros na mistura do Rock com a música eletrônica chamam a atenção da crítica especializada.

 
HARRY
Alguns lugares eram bons para não só assistir shows como também para tocar. A Concha Acústica e o Bar do Torto contribuíam para a divulgação do trabalho dos músicos de diferentes estilos. O mais lendário desses lugares, principalmente para o Heavy Metal talvez tenha sido o Circo Marinho, localizado na Av. Ana Costa, em Santos. Ali tocavam bandas de outros lugares do país como o Taurus, Vodu, Viper, Chave do Sol, Centúrias, Salário Mínimo, Metrallion, Máscara de Ferro, Attômica, Lobotomia, Extermínio, BSBH, e o lendário show South American Death Fest, em que os bangers “pararam” a avenida. Além do pessoal da região, vários bangers do interior do estado de São Paulo lotaram o lugar pra ver esse show.


SOUTH AMERICAN DEATH FESTIVAL


O som pesado ganhara um público fiel e as bandas locais proliferavam. Pactus Fire, Mordedura, Druidas, Oryon, Warkings, e Ícarus tinham agora acesso a palco e equipamento sensivelmente melhor tocando em shows com bandas mais “rodadas”.


 
 
ÍCARUS


Muitas amizades nasciam nos encontros de sábado à tarde nas lojas que ficavam no Centro Comercial do Embaré, e se tornavam ponto de encontro. Era lá que os jovens headbangers saciavam o desejo por música. Quem não podia adquirir um Lp, fosse importado ou nacional, tinha a oportunidade de gravá-lo em cassete e ouvi-lo da mesma forma.

 
ORYON


Expostos nas paredes discos do Metallica, Anthrax, Exodus, Destruction, Agent Steel, e outras bandas que logo se tornariam ícones do Thrash Metal. Também os primeiros discos das bandas brasileiras chegavam lá.

 
PLATÉIA DA CONCHA ACÚSTICA NOS ANOS 80


Na base da parceria a cena ia se fortalecendo. Em algumas ocasiões duas ou mais bandas se juntavam para dividir as despesas do aluguel de um local para ensaiar colocando o que cada uma tinha de equipamento. Era assim o local conhecido como PV, em pleno Gonzaga, bairro nobre da cidade de Santos.


Uma casa cujo dono alugava os quartos para que as bandas colocassem seus equipamentos e ensaiassem. Podia-se ouvir pela casa do Jazz, Blues e Hard Rock de Lei Seca e Gigawatts, ao hardcore de Safari Hamburgers, os primeiros ensaios do ainda trio Garage Fuzz e as mais barulhentas bandas daquela época como Explicit Repulsion, por exemplo. A um quarteirão dali, na casa de um de seus membros, ensaiavam as banda Mistic Death e mais tarde o No Sense.


NO SENSE


Alguns dos músicos desse underground santista já vinham de bandas anteriores, o que unindo ao “sangue nos olhos dos novatos” trouxe um novo vigor ao Rock da região. É também dessa forma que surge a voraz banda de death metal Chemical Disaster, formada por músicos das bandas Warkings, Ignorance e Alcólica.

 
CHEMICAL DISASTER


Depois de algum tempo começam a surgir os estúdios de ensaio que já dispunham de alguma infraestrutura e equipamentos que só eram vistos em shows. Com o passar dos anos vários apareceriam pra facilitar a vida das bandas proporcionando melhores condições para compor e gravar.

 
MR. GREEN

Nas rádios o Hard Rock rolava solto, e músicos da região aproveitavam o momento. Uma das lojas de discos mais freqüentadas da região ampliara as suas atividades para selo, e a Metal Rock Records lança, em 1994, o CD Faces da banda Mr. Green. A música Invisible  faz sucesso nas rádios 95 e 98 FM em Santos e nas paulistanas 89 e 97 FM.

 
LAST JOKER


Também o Last Joker nasce no início dos anos 90 com um um hard rock dançante na linha de Van Halen e Whitesnake, tendo seu trabalho lançado em 1992 pelo mesmo selo Metal Rock Records. A banda tocava nas casas Lofty, Zoom, no bar Faraós (em cima do cine Iporanga), no Chopp Chopp, e ainda interior e capital do estado.

Outra banda de destaque era o Yankee, que vinha conquistando o underground de São Paulo e da Baixada Santista. O som era influenciado pelas bandas: Ratt, Bon Jovi, Scorpion, Skid Row e Mötley Crüe.

YANKEE

Em 1992, tocando em várias casas de rock de São Paulo, Santos e interior, planejavam gravar o primeiro CD, mas perdem o nome para uma banda cover de São Paulo e são obrigados a trocar sua “marca”. Fazem um show com o nome de Decadence, mas logo se tornariam Promise, gravando um material demo-tape e um EP.

A cidade de São Vicente também contribuíra com uma casa de show para o público roqueiro, chamada Flash Chopp. Shows bem legais neste bar sem palco, com equipamento colocado principalmente pelas bandas, mas com muita atitude tocavam, entre outros, Chemical Disaster e No Sense, que logo gravariam seus primeiros discos por selos já consagrados no Metal e Grindcore nacional. A casa já com palco construído recebia diversas outras bandas como Asmodeu, Skullkrusher, Dezakato, IML. O Hardcore, o Guitar Band, o Eletrônico, diversos estilos tinham espaço.


A vontade de fazer parte daquilo era muito maior do que qualquer dificuldade. A região também contava com outros lugares para shows, Cubatão tinha o SOMECA, que não era um espaço destinado para essa finalidade, mas que servia muito bem ao propósito de quem organizava eventos por lá, onde Genocidio, Krisiun, Mitological Cold Towers, Acid Angel e Violent Vision se apresentaram, e ainda eram organizados festivais ao ar livre que mostravam uma diversidade cada vez maior de bandas principalmente no segmento Grindcore. Guarujá também tinha o Templo do Rock e as bandas da Trash Metal, Burial e Sarcastic. Algumas casas de show não durariam muito por conta dos baderneiros ou por falta de interesse dos proprietários em manter as portas abertas para a música underground. Casas como o Bar do Torto não mantiveram suas portas abertas por mais tempo ao Metal por conta dos prejuízos que alguns causavam. Em Santos também o Carinhoso Bar, por alguns também chamado de Dynamo, o Chopp Chopp e vez ou outra o Sindicato dos Metalúrgicos e o Teatro de Arena, anexo ao Municipal, locais onde foram realizados shows de MX, Korzus, Necrodulia, Explicit Repulsion, Vulcano, Asmodeu, Torture Squad, Traumma, Four Guys Playing Hell, Coliforme Fecal e Madsen.


PASSARINHOS BAR EM PRAIA GRANDE


Os locais podiam durar pouco, mas sempre surgiria mais um, e os clubes da região também voltavam a ser locais de shows, oportunidade de ver bandas gringas. Saxon, Mercyful Fate e King Diamond, Gamma Ray, Napalm Death, Exodus com Paul Ballof, Nazareth, Deep Purple, entre outras. Um programa de rádio entrevistava bandas locais além de tocar as novidades da ocasião. O programa se chamava Hard’n’Heavy e deu origem a dois festivais que trouxeram Golpe de Estado, Ratos de Porão e Yohodelic para tocar com bandas locais como Last Joker, Merlin e Chemical Disaster.

Entre as bandas não havia competição e sim união. O maior exemplo disso era o projeto chamado de Circuito Hard Core, uma apresentação conjunta de quatro bandas da baixada. No Sense, Explicit Repulsion, IHZ e Safari Hamburgers, que unidas dispunham de todo o equipamento e transporte para vender os shows pela região e outras cidades. As dificuldades da época davam um enorme sentido à participação de todos.

Infelizmente tudo tem o seu lado bom e ruim. Houve um tempo que, as pessoas iam à porta do local dos shows e não entravam. Ficavam bebendo do lado de fora enquanto os shows aconteciam, e com o passar dos anos perderam o hábito de consumir o trabalho autoral das bandas locais e surgiram as bandas cover. Muitos viram ali uma oportunidade de continuar “na estrada”, como a pioneira banda Blow up, que deixando de lado seu idealismo, voltara a animar os bailinhos desta vez tocando clássicos da música internacional. Enquanto alguns músicos partiam para tocar cover somente por diversão outros tinham a chance de ganhar algum dinheiro que não conseguiam com som de sua autoria. Mas ainda assim a década de ’90 fez crescer uma nova geração de bandas que seriam algumas das mais “malditas” do cenário underground da baixada santista.

 
WRINKLED WITCH


A juventude freqüentadora dos bares ficara “órfã” da Adega Marrocos e Passarinhos Bar (Praia Grande) e passara a ter o Matrix como ponto de encontro. Era uma época em que se brindava ao excesso, as bandas cada vez mais blasfemas não mediam esforços para chocar a sociedade.

O intercâmbio de músicos entre as bandas era intenso, muitos “projetos” surgiam dessa “promiscuidade” artística. Um desses “projetos” foi a Wrinkled Witch, banda de Black Metal, que após algumas gravações independentes e uns poucos shows, deu origem à First Pagan Monarch, lançada pelo selo Violent Records na coletânea Endless Massacre Vol. I. Tal coletânea contava ainda com as bandas Infector e Vetor (Praia Grande), e uma faixa do disco Tales From the Black Book do Vulcano, que voltara à ativa com toda agressividade do começo da carreira.

 
IN THE PROFOUND ABYSS


O momento era de muita criatividade, favorecido pela grande quantidade de estúdios de ensaio. In the Profound Abyss, In Hell, Opus Tenebrae, Hugin Munin e Chesed Geburah eram exemplos de como o Metal pesado na baixada santista soava de diferentes formas, com influências mais diversas.



CHESED GEBURAH



EMPIRE OF SOULS

Outra das mais brutais, o Empire of Souls, formado em 1995, lança quatro demo-tapes até que através de uma parceria com os selos Nocturnal Age e Imperial Records, lança seu primeiro álbum intitulado Revenge Circle. Assim como eles outras bandas do litoral se tornariam importantes nomes do Black Metal paulista.

 
HUGIN MUNIN


O Praia Sport Bar, passou a ser o lugar onde algumas das melhores bandas cover tocavam, mas também músicos do Grindcore, Punk Rock e Hardcore divulgavam seu trabalho autoral. As bandas Olho Seco, Sociedade Armada, Hutt e a recém formada Repulsão Explícita (criada por ex- membros do Psychic Possessor, Chemical Disaster e Explicit Repulsion) tocavam lá. Além disso, a casa seria berço do “movimento” Emo na cidade, e suas domingueiras eram repletas de jovens que em grande parte, nunca haviam subido em um palco para tocar.


O maior fenômeno da época era a banda Charlie Brown Jr., que nasceu em Santos e ganhou espaço no cenário nacional com seu som que mistura uma infinidade de ritmos, incluindo Reggae, Hip Hop, Punk Rock californiano e letras de forte identidade com os adolescentes. Também o Garage Fuzz se firmava como uma grande banda alternativa, se tornando uma das mais conhecidas no país, ainda que sendo underground, fazendo turnês por todo o país com as bandas Sick of it All, Down By Law, Fugazi e Seaweed. Outras bandas fizeram parte do cenário hardcore dos anos 90 em Santos, como Dirty Fun, What's up Doc, Altered Mind, Overjoyed e Sonic Sex Panic.

 
GARAGE FUZZ


O Metal da Baixada Santista vem conseguindo destaque não só pelo país como também no exterior. Não só veteranos como Vulcano fazem turnês no exterior. Shadowside, banda de heavy metal formada em 2001 teve como primeiro lançamento, uma demo-EP, seguido de uma turnê nacional que incluia shows de abertura para as bandas Nightwish e Primal Fear. Escolhidos como banda de apoio para o Helloween na turnê brasileira de 2006, a Shadowside está com freqüência no exterior, tendo já dividido o palco com Iron Maiden, Wasp, Kittie, Divine Heresy, Death e Sepultura.

 
SHADOWSIDE


As cidades da Baixada Santista oferecem diversos locais para todo o tipo de público, Rock, MPB, Blues, Jazz e até a música erudita têm seus representantes, todos os gostos e faixas etárias. Entretenimento para uns e trabalho para outros. O músico ‘freelance’ acaba tocando em diversos lugares, porém, os cachês dependem do público que levam e do retorno que dão. Uns dizem que para ganhar dinheiro, o músico tem de estar nas "panelinhas", e o mercado da música em Santos sofre pela desvalorização e pela falta de oportunidade nas casas noturnas.Hoje as bandas da noite santista disputam espaço com humoristas de stand up comedy enquanto o público se acomoda com a praticidade de ouvir as músicas pela web.

Montar uma banda de rock é agora a coisa mais fácil do mundo, porém, conseguir transformar a sua música em algo que vá além de um hobby ainda não é nada simples. Não basta tocar na noite. As bandas chegam ao ponto de ter reuniões de pauta entre integrantes e proprietários das casas onde tocam. Preparar uma composição própria pode envolver uma verdadeira equipe de produção que inclui cenografia, performance, cobertura fotográfica dos shows, assessoria de imprensa e marketing, entre outros itens. Outras bandas ainda gastam do próprio bolso para saber como é a experiência de cair na estrada enfrentando uma tour. Sejam os roqueiros da orla da praia ou os dos inferninhos da boca do lixo, eles ainda estão por aí, e as cidades da Baixada Santista com toda certeza ainda revelarão ótimas bandas, sejam por seu talento e perseverança, sejam por seus “contatos” e habilidade de circular livremente por essas “panelinhas”.

por Adair Jr e André Martins